sábado, 11 de dezembro de 2010

Tudo Azul, Completamente Blue (entrevista de 2004)

Gabriel Braga Nunes parece ser um homem certinho.Educado, inteligente, bonito e de boa família.A TPM não acredita em pessoas perfeitas.Por isso, resolveu investigar a vida do rapaz e descobriu que ele também não está livre de neuras.Melhor assim.

À primeira vista (e às primeiras palavras), Gabriel Braga Nunes parece ter sido abençoado com o dom de não possuir problemas. Tem uma relação maravilhosa com a mãe, a atriz Regina Braga, e com o padrasto, o médico Drauzio Varella. É superpróximo da única irmã, Nina, dois anos mais moça. Também é íntimo de suas três ex-mulheres. E olha que ele só tem 32 anos. O nirvana não é só na vida pessoal. Gabriel adora ser ator e faz parte do prestigiado grupo de “galãs da Globo com formação teatral”. Depois de encarnar um vilão em O Beijo do Vampiro , sua última aparição na TV, está eufórico com a estréia de K2 , peça que produziu e na qual é um dos protagonistas. O motivo da alegria? K2 é dirigida por Celso Nunes, pai do ator. E o outro protagonista, Petrônio Gontijo, é um de seus melhores amigos.

Gabriel é simpático, educado, sorridente. Publicitariamente correto, não gosta de polêmica e prefere se esquivar na hora de responder o que acha do mundo das celebridades. Mora em um apartamento na Gávea, zona sul do Rio, com vista para a mata. Parece ser o típico “homem do prediozinho antigo”. Paulistano da gema, aprendeu a adorar o Rio de Janeiro, onde vive há cinco anos. Fã de Cazuza, cantarola uma música que marcou sua vida, Completamente Blue . “Tento ver na sua cara linda o lado bom...” Mas espera aí! Essa música também diz: “Sou feliz em Ipanema e encho a cara no Leblon”. Pergunto se de vez em quando ele enche a cara, e Gabriel finalmente desce do pedestal, revelando que, ano passado, bebeu além da conta. Ufa! Ele não é tão perfeito assim.

Tudo bem, legal. Mas não é esse o Gabriel que estamos procurando, o do discurso oficial. A missão é ver se o cara tem um lado transgressivo. Conversa vai, conversa vem, descubro que Gabriel já teve uma banda. Antes de estudar teatro na Unicamp, tocava rock no Retrô, inferninho do underground paulistano nos anos 80.

Mas o lado anarquia, segundo ele, foi embora faz tempo. “Chega uma hora em que você pode fazer o que quer, aí deixa a rebeldia e parte para a ação.” A vocação para a carreira de ator veio cedo, e ele nunca fugiu dela. A precocidade também se manifestou na área sentimental. Aos 17 anos, se apaixonou por uma moça de 21 que também estudava artes em Campinas. Foi morar com ela, e ficaram juntos por quatro anos.

Normal, não fosse a moça Eliete Mejorado, diva do underground de São Paulo, que hoje vive em Londres com o marido, Bruno, seu parceiro no duo de música eletrônica Tetine. Os dois adoram brincar de inverter papéis sexuais e quebrar tabus. No último show que fizeram em São Paulo, em dezembro passado, Eliete se vestiu de homem. Bruno de mulher. São respeitados por crítica e fãs pela modernidade de verdade que levam para a arte e para a vida. Foi com ela que Gabriel morou em Londres nos anos 90. Pára tudo. Ele não é nada certinho! Ninguém casa com Eliete impunemente.

Ao saber que a repórter é amiga dos tetines, um outro Gabriel surge. Ele conta, às gargalhadas, das festas que davam na casa de Petrônio Gontijo. As tais festas sempre acabavam com o grupo cantando: “Pavão misterioso, pássaro formoso...” Normal?

Gabriel coleciona recordações – literalmente. Tira da estante uma pasta onde está escrito Londres e começa a mostrar fotos. Ele tem pastinhas para tudo. Cada peça, cada novela, cada viagem, cada fase da vida. É extremamente organizado. A ponto de um amigo ligar durante a entrevista pedindo desculpas por ter levado uma caneta Bic preta da escrivaninha do moço. Sim, ele sempre tem em casa uma caneta azul, uma vermelha e uma preta. E sente aflição quando uma delas não está por perto. “Quando você for embora, vou arrumar toda essa mesa, senão não consigo dormir.”

Gabriel nunca fez análise, mas anda pensando no assunto. Filho de uma família moderna (ele foi criado por Drauzio e considera as duas filhas do médico suas irmãs), Gabriel não gosta de casamento, apesar de já ter sido casado três vezes. “Cada vez que fui morar junto, achei que duraria para sempre. Mas uma hora parece que o ciclo acaba. Gosto muito de namorar e tenho vontade de ter filhos, mas não penso em casar de novo tão cedo. Dividir casa é complicado.”

Depois de casar e se separar da atriz Karine Carvalho, Gabriel passou, por vontade própria, dois anos sozinho antes de começar a namorar sua atual, a atriz Flávia Monteiro. “Foi legal ter ficado sozinho. Estava fazendo 30 anos, casado há 12, com três mulheres diferentes. Queria acordar e pensar no sonho que tive em vez de ter que conversar com alguém. Foi bom porque curti minha angústia. Sabe aquela hora que você está em casa sozinho e pensa: ‘Nossa, eu precisava tanto de alguém’. É importantíssimo sentir isso.”

Fonte: Revista TPM 
Data: março/2004