segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gabriel Braga Nunes sempre foi "frila"

Data: março/2006



Gabriel Braga Nunes, 34, chega para conversar com a reportagem de chinelos, bermudão, olhos inchados de sono. Puxa uma cadeira na varanda de uma casa da Fazenda Bela Manhã, onde vem sendo gravada a novela “Cidadão Brasileiro”, desculpa-se pelo atraso e engole um bocejo. Eis o protagonista da novela da Record, o personagem-título da trama, Antônio Maciel. Grava 15 horas por dia, cinco dias por semana para pôr no ar a história de Lauro César Muniz. O cansaço de Gabriel é visível, mas isso não abala seu bom humor. Brinca com todo mundo, dá risada. Nem parece que tem pedigree - é filho do diretor de teatro Celso Nunes e da atriz Regina Braga - e trata a profissão sem frescuras. Leva a entrevista como se estivesse em um bate-papo de bar. Antes que a gente se despedisse, Gabriel ainda teve tempo de alcançar o carro da reportagem para dizer: “ei, põe aí que vou casar esse ano e é a primeira vez que quero ter filhos.” Esse Antônio Maciel...


Agência Estado - Como é lidar com um personagem ao mesmo tempo protagonista e antagonista?

Gabriel Braga Nunes - Eu faço um herói cheio de conflitos. Ele está o tempo todo em contato com dúvidas do tipo: ser pobre e honesto ou me corromper para enriquecer? Isso é uma questão tipicamente brasileira, e o fato de estar com várias mulheres ao mesmo tempo. Um herói brasileiro é necessariamente um herói erotizado. A coragem de arregaçar as mangas e construir coisas, sem medo de errar. Um cara simples, popular, com pouca instrução mas que consegue circular bem nas elites. Ao mesmo tempo é capaz de botar tudo a perder por um gesto absurdo de ingenuidade.

AE - Há alguns anos, o diretor Jayme Monjardim, da Globo, disse que você fazia parte de uma geração promissora de atores. Por que trocou de emissora?

Gabriel - Ele falou isso de mim? Deve ser por causa de ‘Terra Nostra’, que fizemos juntos. Bom, eu não mudei de emissora. Eu sempre fui frila, nunca fui da Rede Globo. Fiz seis novelas lá, mas nunca fui da casa. Eu tive propostas da Record mais interessantes. As condições de trabalho que eu tenho aqui são melhores. E também aconteceu que na Globo meus personagens estavam se repetindo. Eu não estava conseguindo fazer um herói. Fazer um homem íntegro como fiz em ‘Essas Mulheres’ era o que eu procurava.

AE - E você veio para cá nesse pacote? Fazer “Essas Mulheres” e emendar “Cidadão”?

Gabriel - Não, vim fazer ‘Essas Mulheres’. Fiz um contrato por obra. A novela deu muito certo e na reta final pintou um convite, então fiquei na casa. Mas não houve essa história de “abandonei” a Globo para vestir a camisa da Record. Assim que acabar ‘Cidadão’ estou livre, não sei o que vou fazer depois. Gosto de independência.

AE - Você parece que leva a profissão sem nenhum glamour. Como se fosse um funcionário. É isso mesmo?

Gabriel - (Risos). Eu não sei. Talvez pelo fato de ter mãe e pai ator, desde cedo no meio do teatro, talvez isso tenha me dado uma visão mais objetiva do que seja a profissão. Mesmo TV, foi uma coisa que entrou na minha vida aos 25 anos de idade. Eu era contra TV.

AE - Contra, por quê?

Gabriel - Não sei, nunca tinha chegado perto desse mundo, nunca vi novela. Quando eu estava fazendo faculdade (é formado em Artes Cênicas pela Unicamp), as oportunidades que apareceram em TV não me interessaram. Na adolescência, achava que novela era nocivo para o País. Mas depois, aos vinte e poucos anos, tive um insight, achava que era cedo para estar preconceituoso com a profissão de ator.

AE - Uma de suas primeiras experiências foi na Record, na minissérie “Por Amor e Ódio”.


Gabriel - Antes fiz ‘Razão de Viver’ no SBT que eu adorei. Para mim foi especialíssimo, como eu nunca tinha feito. Depois da novela, fui morar em Londres. Gastei tudo o que eu tinha ganho, que não era tanto assim, e quando voltei, voltei duro. A sorte foi que quando eu cheguei o Atílio Riccó me chamou para fazer uma minissérie na Record, de 30 capítulos, que virou 50.



Fonte: Forum Esas Mujeres Hoy