segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Entrevista na Contigo! (2004)

Na adolescência, ele desistiu de ser roqueiro para seguir a profissão dos pais, Celso Nunes e Regina Braga. Agora, o galã da Record questiona sua vocação de ator e procura na música uma nova resposta para o futuro.

Aos 33 anos, Gabriel Braga Nunes (7/2/1972) sente que foi atingido por uma onda gigante, daquelas que vem e leva tudo. No momento em que alcança sucesso profissional - ele é Fernando, em Essas Mulheres, novela da Record, o primeiro galã de sua carreira - foi tomado por uma súbita vontade de se dedicar aos solos de guitarra. E sonha acordado com uma vida de rockstar.

Outro dia, caminhava pelo bairro de Pinheiros, em São Paulo (ele mora sozinho num flat da cidade), quando parou em frente a uma vitrine e se encantou por uma guitarra. No seu imaginário, já se via em turnês mundo afora. Influência da namorada, a cantora Danni Carlos, 30, com quem está há seis meses? Pode ser. E não seria a primeira vez que um amor muda seu caminho. Foi assim quando decidiu ser ator.
Era roqueiro na adolescência, mas conheceu uma garota que fazia teatro e passou a achar que esse era seu destino. É be m verdade que pesou o fato de ter nascido em uma família de atores - seus pais são Celso Nunes e Regina Braga (atualmente casada com o médico Drauzio Varella). "Não tenho certeza se ser ator é a minha vocação", diz. E sonha com férias em Londres, assim que a novela terminar. "Quero entrar em pubs e ouvir rock and roll."

Ser ou não ser
"De um tempo para cá, tenho vontade de retomar algumas atividades solitárias. Eu quero ter um controle maior sobre a minha criação artística - e é bastante possível que isso não seja com o trabalho de ator. Talvez seja com uma guitarra ou com uma folha de papel. É lugar-comum dizer que sou ator porque amo isso. A gente não questiona, só sai repetindo. Pode ser que eu tenha me deixado levar pelo discurso comum, pelo lado idealizado da profissão. Não tenho certeza se ser ator é a minha vocação. Mas desde quando aceitei es sa incerteza, minha relação com a profissão melhorou."

Influências juvenis
"Na adolescência eu era roqueiro. Mas um dia conheci uma atriz e me apaixonei por ela. Aí, passei a conviver com atores e estudantes de teatro. Eu me fascinei pelo tipo de vida que eles levavam. Pareciam autênticos e criativos. Quando prestei vestibular, acreditava que, quem não era ator, era bobo. Na época, meu pai disse que os atores também eram bobos, só que levavam mais tempo para perceber. Meu pai me orientou muito e disse que eu não deveria largar o rock pelo teatro. Mas fiz vestibular na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), para a escola de teatro, fundada pelo meu pai (o diretor Celso Nunes), onde minha mãe (a atriz Regina Braga) dava aulas e minha namorada estudava. E passei."

Herança pesada
"Na faculdade, tive aula com minha mãe e convivi de perto com meu pai. Hoje, acho que essa influência não foi saudável. Tenho a responsabilidade de carregar esses dois sobrenomes e uma obrigação ética com a profissão. (A irmã Nina, 31 anos, decidiu ser fisioterapeuta). Isso não é ruim. Mas o excesso de responsabilidade me tira um pouco de criatividade, me deixa um pouco travado. E, na profissão de ator é fundamental correr riscos."

Ganha-pão
"Ironicamente, nesse momento, a profissão de ator é o meu chão. E essa estabilidade me impede de buscar outros caminhos. O mercado de trabalho faz você se afastar da fonte."

Record e Globo
"Eu nunca tive contrato com a Globo, sempre fui freelancer (que realiza trabalhos eventuais e ganha por obra). Minha ida para a Record teve a ver com a qualidade que eles conseguiram com A Escrava Isaura e um retorno a São Paulo (o ator é paulista). As diferenças entre Globo e Record hoje são pequenas, e isso está no ar para quem assiste. Na Record existe um ambiente pessoal ótimo e uma vontade de que o trabalho dê certo. A opinião dos atores conta mais também, o que, pelo tamanho da empresa, nem sempre acontece na Globo."

Bom moço
"Os personagens que eu vinha fazendo na televisão sempre tinham um forte desvio de caráter. Eram caras ambíguos, sedutores. É estimulante fazer um tipo ético, íntegro, o herói, o galã, diferente de tudo o que eu já fiz. Estou gostando muito."

Romance feroz
"Namoro há seis meses a cantora Danni Carlos. É uma mulher muito fascinante, muito feroz. Ela é feroz e agressiva, e eu acho isso muito agradável (risos). A proximidade dela me estimula, ela é uma criadora por excelência e isso acentua a urgência que estou vivendo. Danni é um exemplo raro de artista que consegue imprimir identidade no trabalho artístico."

Algo dentro de mim
"Quando a novela acabar, quero ir para Londres. Quero tirar férias para entrar em pubs e ouvir rock and roll. Seria leviano, nesse momento, pensar em gravar um disco, virar roqueiro. Beiraria a babaquice. Penso na música como busca pessoal. Ela tem algo que me excita e eu ainda tenho tempo de descobrir o que é."

Prazer com culpa
"Talvez o bem-estar material, o conforto, o amadurecimento e a estabilidade emocional me tragam um pouco de culpa. Eu tenho medo de constatar que o meu ato de criar tenha a ver com a angústia. Hoje, vivo muito bem e sou feliz. Não sei até que ponto a falta de angústia e de rebeldia me impedem de criar. Tenho receio de buscar uma coisa que não existe mais."

E o futuro?
"É muito bom quando sua vida é atingida por uma tempestade. Você vê desmoronar tudo aquilo em que acredita, todas as suas ambições. Tem de jogar tudo fora e se reinventar. Acho que vivo isso nesse momento. Adoro chutar o balde. Não arriscaria nenhum palpite para o futuro. Não sei o que vai acontecer no ano que vem, em nenhum sentido."




Fonte: Revista Contigo