Ator fala do Léo de Insensato Coração, grande vilão das 9 que já está marcado para morrer
Era de se esperar que a audiência experimentasse momentos de sede de
justiça depois de tudo o que o desajustado Léo aprontou em Insensato
Coração (Globo), desde que a novela estreou, em fevereiro. O que o ator
Gabriel Braga Nunes não esperava era que a redenção viria tão fácil,
depois de curto calvário.
"É engraçado, porque já estão dizendo -
principalmente as mulheres - que o coitado já sofreu demais,
acredita?", surpreende-se o ator, que nos últimos dias só fez gravar no
cenário do canil onde a personagem Norma (Glória Pires) lhe espezinha
por vingança, feito uma senhora de José de Alencar.
Mas a
despeito da torcida dos que esperam que Norma esqueça os anos que passou
na cadeia por causa do pilantra e do charme do personagem, o castigo
vem a galope - os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares devem
escrever em breve o assassinato que vai movimentar os últimos capítulos
da novela.
Ainda na expectativa dos próximos acontecimentos, o
ator encontrou a reportagem no sábado para falar do sujeito que o mantém
em ritmo de Satisfaction, sua trilha sonora na novela, há seis meses.
"Ele não poderia ter tema melhor."
O Léo entra na conta da insensatez da novela?Na
primeira conversa com o Gilberto (Braga, autor), ele me disse
"psicopata". E quando se fala de psicopata, é difícil falar de
insensatez. Psicologicamente, ele é perigoso, porque é imprevisível.
Mas, nesse aspecto, é um personagem livre para o ator. E ele nunca deixa
de ser cativante. Volta e meia eu me iludo.
Quando, por exemplo?Estou
sentindo uma coisa tão legal de contracenar com a Glória (Pires), que
eu penso "que pena que vai acabar". Dá vontade que eles se encontrem nas
semelhanças, e fiquem juntos. Mas eles têm uma diferença fundamental:
ela tem caráter. Quando ela pratica o mal, sabe o que está fazendo. O
Léo, não - ele é capaz das viradas mais incríveis sem nenhuma ética.
A falta de questionamento dele não é ruim para o ator?Cara,
não acho... É uma liberdade infinita, utópica até. Não sei se a gente
consegue ter esse descompromisso, mas o psicopata consegue.
Se
ele já carrega uma tragédia, então a inveja do irmão (Pedro/ Eriberto
Leão) seria uma conversa fiada, não? Ele não é um Caim. É,
há uma contradição aí, entre psicopatia e psicanálise. Em vários
aspectos ele é um psicopata, mas ao mesmo tempo tem questões
psicanalíticas fortes. A relação com a mãe, por exemplo .. Ele é um cara
que sai com prostitutas, se relaciona com as demais mulheres por
interesse, e ama só a mãe.
E agora, já na reta final da novela, dá pra dimensionar o que ele representa em sua carreira?Não
penso nisso. O que significa pra mim é que ele é um personagem
estimulante. Poucas vezes numa novela eu recebi cada bloco de capítulos
com um interesse renovado. Não tive comodidade. Ele é o Mefisto da
trama, que entra para movimentar a história.
As atitudes dele tomam seu pensamento fora do set?Ele
acompanha meu dia a dia, mas não porque eu fique articulando Confio nos
autores, e acho legal aprender com o personagem. É uma das coisas mais
estimulantes da profissão.
Aprender para a profissão ou para a vida?Para
a vida. Ser ator é estudar comportamento. Quando escolhi a profissão,
tinha uma sensação de que a vida do ator era mais elástica, que ele
experimenta mais. Por isso o livro da Fernanda Montenegro chama Viagem
ao Outro. É você se pôr no lugar do outro, e isso dá para os atores uma
humildade. Engraçado isso, numa profissão que lida em tantos aspectos
com a vaidade e o ego
O Léo nunca caiu no humor, que é um componente frequente em vilões de novela. Por quê?Nunca
fiz comédia, nem no teatro. Mas quando uma situação traz um componente
de humor, acho bom você não fazer graça. Uma coisa que me incomoda aqui
no Brasil é uma tendência dos atores a sublinhar certas coisas, como se
estivessem ensinando uma criança. Acho meio careta.
Fonte:Estadão