terça-feira, 7 de junho de 2011

Gabriel Braga, o vilão Léo, da novela das 9, abre o jogo em entrevista

Mesmo sendo um dos nomes mais falados do horário nobre da Globo, o paulista Gabriel Braga Nunes, 39 anos, faz a linha low profile. Em entrevista exclusiva ao JT, diz que procura focar a cabeça no trabalho, longe de badalações.

Para se desligar do mundo do psicopata Léo – como define seu personagem de Insensato Coração –, ele corre pelas praias cariocas e tira um som da guitarra. E diz que aprendeu com os pais – a atriz Regina Braga e o diretor de teatro Celso Nunes – a não se deslumbrar.


No início da novela, você disse que estava num ritmo intenso. Tem sido muito desgastante?
Minha vida, no momento, está completamente voltada para o personagem. Eu quase não tenho vida pessoal. E precisa ser assim. No entanto, não está pesado porque é um trabalho em que eu acordo de manhã e venho (ao Projac) feliz da vida. Por pior que o Léo seja, é um personagem leve.

Mesmo fazendo tanta maldade? Gabriel, ele é o vilão da novela. Só falta vender a mãe! 
Tem duas coisas aí (risos). Aos 39 anos e 15 novelas, eu já não levo mais personagem para casa. A segunda é que o Léo é psicopata. Ele não tem culpa. Não carrega responsabilidade pelos próprios atos. Então, é um personagem leve de se fazer. Ele não traz carga dramática e psicológica de suas atitudes. O Léo é um cara que passeia pela vida distribuindo maldades. Ele é doentinho, divertido.


E por que você não tem mais vida pessoal? O que mudou? 
Eu gosto muito de estudar esse personagem. Não tem muita coisa que eu faça, fora estudar e gravar. O pouco tempo livre, eu uso com os meus dois hobbies favoritos: tocar guitarra e correr.


Você já teve banda, não é? Fazia que tipo de som? Em que lugares se apresentava?
Tive diversas bandas até os 17 anos. E, claro, eram bandas de rock’n’roll (risos). Todos os clássicos do gênero: Beatles, (Rolling) Stones, Queen, Jimi Hendrix. E, claro, nos apresentamos! Ganhávamos super bem, sabe? Dava para pagar várias cervejas (risos). Mas eu larguei o rock’n’roll assim que entrei na faculdade de teatro.


E você acha que foi influenciado por seus pais (a atriz Regina Braga e o diretor Celso Nunes)?
Claro! Durante toda a minha infância, eu vivi nas coxias e nos camarins de teatro. Eu tenho muitas boas lembranças.


Conte alguma.
Lembro de uma vez em que meu pai entrou no palco no Teatro Augusta, pediu para as pessoas não fumarem durante o espetáculo, porque poderia ser perigoso (as cadeiras eram de madeira) e foi vaiado. Outra coisa era que eu costumava ficar nas coxias e, entre uma cena e outra, minha mãe brincava comigo. Ah, eu também morria de ciúmes quando ela tinha cena de beijo com outros atores. Eu era possessivo, sentia ciúmes, ficava querendo subir no palco.


Quando você entrou na faculdade de teatro, como eles reagiram?

Eles apoiaram, claro. Entrei, em 1990, na Unicamp. No início da minha carreira, ser ator estava associado exclusivamente ao teatro. Eu não virei ator pensando em televisão nem em cinema.

Foi fazer TV por causa de uma necessidade financeira?
Não. As minhas escolhas profissionais nunca foram pautadas por dinheiro. Eu senti interesse por cinema e por TV, e fui fazer. Mal sabia eu que ia acabar gostando tanto de fazer televisão, achando tão prazeroso atuar numa novela.


Sua ida para a Globo não foi por dinheiro? Lembro que você dizia planejar ficar fora da TV…
Não foi por dinheiro. Eu estava realmente guardando 2010 para o cinema (ele estará em três filmes: O País do Desejo, O Homem do Futuro e Garibaldi na América) e para estudar. Eu estava a caminho de Nova York para estudar blues, ficar tocando guitarra.


Como assim? Você estava com passagem e hotel reservados?
Ah, eu ia viajar sozinho, estudar, tocar. Estava com tudo organizado.


E ter ficado no País mudou sua carreira? O Léo é um divisor?
É cedo para dizer isso. É, sem dúvida, um grande personagem. Mas tenho bastante orgulho dos outros personagens que eu fiz.


Seu nome é um dos mais citados da novela. Aliás, por ele ser sedutor, tem recebido cantadas?
É um personagem que gera raiva, né? Uma raiva gostosa. E é ótimo porque eu sou pago para isso: para provocar raiva e distribuir maldades. Acho que ele não é sedutor. Ele é cativante e carismático.


Seus pais já te ligaram falando sobre o personagem?
Sim. Os meus pais são os meus melhores conselheiros profissionais. Eu adoro conversar com eles sobre os trabalhos que faço.


Você, pelo visto, é muito ligado a eles. Na época da faculdade, foi difícil morar sozinho?
Pois é. Fiquei 5 anos em Campinas. Foi difícil, mas uma fase ótima. Eu tinha os cabelos longos, andava de bicicleta, morava em república. Aliás, dividia a república com o (ator) Petrônio Gontijo. E nos estudos, eu era disciplinado.


Foi um aluno nota 10?
Numa escola de teatro, não dá para ser nota 10. Mas eu gostava de estudar. Foi um período bom, em que eu fazia performances no bandejão, acreditando que eu estava redimensionando a história da arte ocidental, sabe? Com você foi assim também?


Não. Eu diria que a minha faculdade foi mais contida… Mas me diga: você ainda tem contato com a sua turma de Campinas?
Tenho amigos fazendo espetáculos, mas agora todos vivem correndo. Falo mais com o Petrônio (Gontijo), né? Começamos juntos em Razão de Viver (1996), no SBT. Concorri com 200 atores e fui aprovado. Éramos filhos da Irene Ravache. Que orgulho!


E você também está orgulhoso por estar de volta à Globo? Em algum momento, o convite de última hora assustou você?
Estou! Mas olha, eu não tive tempo para sentir medo, susto ou receio. Se eu me permitisse sentir essas coisas, não teria conseguido fazer o personagem. Fiquei estimulado e já cheguei gravando.


E o que te provoca medo?

Eu tenho medo de diretor ruim.


Mas você passa por esse problema na Globo?
O diretor ruim pode atrapalhar muito um ator, sabia? Mas eu estou longe disso agora (risos).


E a exposição no horário nobre, os fotógrafos? Isso te incomoda?
Seria hipocrisia eu ser ator, trabalhar com comunicação de massa e me incomodar com exposição. Hoje em dia, quando você aceita fazer uma novela, já sabe como será o pacote completo. Mas esse assunto não faz parte do meu repertório. Eu moro na Dias Ferreira (uma rua agitada no bairro do Leblon). Então, está implícito que não tenho problemas com isso.


E tem problema com vaidade?

A minha vaidade tem a ver com saúde. Eu preciso estar bem de saúde, muito mais do que com aparência. Eu gosto de estar bem disposto, de estar me sentindo bem com o meu corpo, com a minha cabeça, de dormir bem. Isso é a minha vaidade.


Quando a sua cabeça não está legal, se prende a alguma religião?
Não. Eu sou ateu.


Desde sempre é ateu? Seus pais também são ateus?

Eu sou ateu. Só isso