sábado, 12 de fevereiro de 2011

'Fui com tudo': Gabriel Braga Nunes prova ter sido acertada a sua escolha para viver o vilão Léo

Gabriel Braga Nunes está sentado na recepção do flat em que mora, no Leblon, me aguardando pontualmente. Coisa rara no meio artístico. Nos cumprimentamos e ganho um abraço daqueles que só se recebe de um velho amigo. Fico surpresa. Afinal, ouve-se falar por aí que o moço não é afeito a jornalistas, que é meio temperamental. Descemos a rua em direção a uma livraria. São quase cinco da tarde e o ator ainda não almoçou. Pede a comida, uma água com gás e uma taça de vinho branco gelado. O dia não foi de folga. Leo, o personagem que interpreta em “Insensato coração”, estava aprontando alguma pelas bandas do Santo Cristo, no centro da cidade. Ele me conta do calor absurdo que fez naquela manhã, e parece extremamente satisfeito ao falar do atual trabalho.

— Estou adorando tudo isso. Leo me surpreende demais com suas atitudes, com sua completa falta de escrúpulos. Cada cena que vejo, penso: “Nossa, e ainda tem mais!” — empolga-se ele, que na pele do personagem concluiu esta semana o golpe — rasteiro, diga-se de passagem —, quando afanou US$ 80 mil do patrão de Norma (Glória Pires), deflagrando aí uma importante trama da novela: — Ele não é aquele vilão arquitetado ou articulado, é até meio malabarista, um destrambelhado.

"Leo me surpreende demais com suas atitudes, com sua completa falta de escrúpulos" (Gabriel Braga Nunes)

Certamente, Leo não surpreende apenas o ator. Há pouco menos de um mês de novela no ar, o público já se envolve na trama e não sabe se condena ou torce pelo personagem:

— Mas não há defesa para ele. O que faz e o que ainda fará o tornam um psicopata sem qualquer sentimento. Não há amor, senso de responsabilidade com o outro, preocupação com o bem-estar de quem quer que seja. Ele é quase desumano. A única pessoa a quem ama é a mãe, a mulher da vida dele.

E de pensar que os belos olhos azuis do rapaz não estariam assim tão empolgados se tudo tivesse corrido conforme o planejado... Após cinco anos protagonizando cinco novelas na Record, Gabriel queria distância dos estúdios de gravação. Estava cansado, queria fazer qualquer coisa, menos TV. Após uma jornada pesada em que em uma semana era possível gravar 130 cenas, decidiu que era hora de um basta, ou um período sabático, uma tendência para os estafados em geral. Pensou em dar um tempo em Berlim, na Alemanha, lugar $adora e tem amigos. Não rolou.

— “Poder paralelo” acabou em fevereiro e emendei três filmes e “As cariocas”. O que já me deu um refresco de qualquer maneira. Pude aproveitar outras linguagens — conta.

Para 2011, o único plano que tinha era tocar guitarra — ele tem nove! — em Nova York. Daí, o telefone tocou numa quinta-feira no fim de novembro e tudo mudou:

— Recebi a ligação do Dennis (Carvalho, diretor de “Insensato”) e no dia seguinte estava na Globo assinando o contrato. Levei 18 capítulos para casa e não parei de ler até a quarta-feira seguinte, quando gravei cenas do segundo e do décimo-sétimo capítulos. Virei noites tentando assimilar quem era esse personagem e como poderia fazê-lo. Sempre me perguntam se eu tive medo. Não tive nem tempo. Fui com tudo.

Até a estreia da novela, Gabriel teve apenas um dia de folga. Muitos podem até pensar “Oh, coitado!”. Mas esta pode ser, se não a maior, uma grande chance para Gabriel mostrar a que veio. E ele nem começou ontem...

Onze entre dez atores sonham com o título de “vilão de Gilberto Braga”. Ele não seria de Gabriel caso Fábio Assunção não tivesse se afastado da novela para continuar seu tratamento. Há quem olhe para Gabriel na tela e pense: “Não é que ele se parece com o Fábio?”. O próprio ator acha. A grande maioria, porém, nem se lembra que ele é o substituto. Palavra que, jura, não o incomoda:

— Não me enche o saco ser chamado de substituto. Tenho muito orgulho de ter sido convidado. Admiro muito o Fábio, sempre achei legais os personagens que ele fazia. O fato de estar na pele de alguém que foi escrito para ele me deixa orgulhoso, foi uma referência para mim. Esse foi o olhar que tive. Estou fazendo um personagem que é cheio de selos de qualidade: o Dennis, o Gilberto, o Ricardo (Linhares, coautor), o Fábio...

Com tantas chancelas, Gabriel tratou de rever alguns vilões de Gilberto. Adorou Renato Mendes, de “Celebridade”, feito por Fábio; Olavo, de Wagner Moura, em “Paraíso tropical”; e a dupla “top top top”: Odete Roitman e Maria de Fátima, de Beatriz Segal e Glória Pires, em “Vale tudo”.

— Existe um humor nas falas, uma ironia que permite acreditar que eles sejam daquele jeito mesmo — opina Gabriel, que, no entanto, não é da corrente que defende os vilões como os mais saborosos: $— Durante muito tempo, quis interpretar um homem íntegro, cheio de ética.

O ator não se deu conta, mas, na carreira de 15 anos, contabiliza mais vilões e bad boys que mocinhos ou galãs. Algo sombrio em sua própria personalidade?

— Acho que não. Nunca quis ficar rotulado, embora saiba que a TV é feita de tipos. Mas creio que consegui diversificar bem — avalia.

Decido saber então se a fama de temperamental procede. Gabriel franze um pouco o cenho, olha a assessora e dispara:

— Você acha que eu conseguiria fazer uma novela atrás da outra se isso fosse verdade?

Digo que não sei e insisto.

— Nunca faltei, não sou indisciplinado, tento fazer as coisas da forma mais profissional possível. Mas o que se ouve falar pode vir de uma insatisfação pessoal de cada um, de uma fofoca que não me diz respeito. Acha mesmo que, se eu tivesse essa fama toda no mercado, estaria fazendo uma novela que já começou problemática? A última pessoa que iriam querer seria eu — arrisca-se.

Ok, temperamento forte ele tem. Personalidade também. E uma irresistível forma de sorrir. Aos 39 anos, comemorados na última segunda-feira, Gabriel diz não se ater ao que a idade traz de pior: o envelhecimento.

— Prefiro pensar na maturidade, nas que aprendi, na importância que dava a algumas chatices que hoje não são mais problema. Não fico apavorado com rugas ou qualquer coisa do tipo. Mas prezo pela saúde. Vou a médico, não cometo excessos — enumera ele, que, para relaxar, corre e, claro, toca guitarra.

O mocinho já teve quatro bandas na adolescência — Ovni Som, Úlcera Rock, Anjos de Vidro e Maria. Não foi um rebelde sem causa, até escrevia poesias e letras que ficavam organizadinhas. Gabriel é um aquariano com uma alma metódica de virginiano, daqueles que sabem onde está tudo: “Odeio bagunça!”. Na infância, costumava causar no colégio quando aparecia vez o outra fantasiado com alguma indumentária das peças que a mãe, Regina Braga, a Cecília de “Ti ti ti”, encenava. Com o pai, o diretor Celso Nunes, teve uma relação bacana, e com o padrasto Dráuzio Varela também. Com Celso, Gabriel teve, inclusive, um projeto teatral, quando foi dirigido por ele em “K2”:

— Tive um encontro muito bonito com meu pai. A gente conviveu muito, se descobriu. Foi muito saudável para a nossa relação — diz.

Saudáveis, ao que parece, também foram os encontros amorosos. Gabriel já foi “casado” três vezes. Quatro anos com a performer Eliete Mejorado, mais quatro com a atriz Karine Carvalho, e outros três com a cantora Danni Carlos. E jura se dar bem com todas.

— Acho que é porque elas são legais — disse ele, que hoje namora Paloma Duarte, com quem contracenou em várias tramas, entre elas “Terra nostra”, “Cidadão brasileiro” e “Poder paralelo”: — Nunca escondemos nossa relação, só não gostamos de explorá-la. Isso é com todo mundo. Você não fica falando da sua vida amorosa por aí. Nós também não. Tem gente que gosta, mas não é nosso caso. Posso dizer que temos uma química excelente quando trabalhamos juntos.

Na volta para casa, conversamos sobre o verão do Rio, cidade que Gabriel ama, mas onde quase desfalece tamanho o calor: “É a única coisa que me incomoda aqui”. Ele saca os óculos escuros Rayban vintage, o mesmo usado por Edward na saga “Crepúsculo” e, com aquela pele branca de quem jamais pisa na areia, penso que o moço tem mesmo um quê de mistério, um ar quase sombrio. Que desaparece quando ele me conta que o próximo destino a se cumprir será em férias pela Jamaica. Como não acredito que Gabriel goste de praia, é bem provável que seu telefone toque de novo e ele faça sua décima-quinta novela:

— Qualquer coisa que eu disser sobre o que vou fazer depois é prematuro. Estou num constante “deixa a vida me levar”.


Fonte: Extra Online
Entrevista de Carolina Marques